domingo, 23 de maio de 2010

Considerações especiais da fisiologia infantil

É importante ter em atenção os aspectos referentes à fisiologia infantil que podem tornar as crianças mais susceptíveis à falência renal associada à ingestão de melamina.




As concentrações de ácido úrico apresentavam-se elevadas quando em comparação com as referentes às das crianças mais velhas e adultos. (Stapleton, 1983; Fathallah-Shaykh & Neiberger, 2008) (tabela 2)

Tabela 2. Concentração de ácido úrico no soro e urina dos neonatos, crianças e adultos



Crianças (todas com idade antecendente à puberdade) apresentaram uma maior excreção de ácido úrico, com uma variação fraccional de 38-61%, em oposição à variação observada nos adultos que foi aproximadamente de 10%.
Estes factores tornam as crianças mais susceptíveis ao desenvolvimento de hiperuricosúria, o que pode torná-las mais propensas ao desenvolvimento de precipitados urinários de ácido úrico. O rim do neonato é, no entanto, menos eficiente quando exposto à urina concentrada e acidificada durante as primeiras semanas de vida, o que pode protegê-lo de potenciais efeitos prejudiciais relativos à excreção de grandes quantidades de ácido úrico. No entanto, o aumento da carga de ácido úrico devido a cirurgia, medicamentos ou asfixia pode sobrecarregar o rim do neonato e representa um risco potencial para o desenvolvimento de nefropatia por ácido úrico (Stapleton, 1983).
Níveis elevados de ácido úrico podem também levar à formação de cálculos renais. De facto, os cálculos de ácido úrico são os mais comuns dos cálculos renais radiolúcidos encontrados nas crianças (Fathallah-Shaykh & Neiberger, 2008). A formação destes cálculos tem vindo a ser associada à hipertensão e baixo pH urinário (Negri et al., 2007; Losito et al., 2009). Factores que diminuem o pH urinário, tais como catabolismo e acidose, podem promover o aparecimento destes cálculos.
No incidente ocorrido em 2008, o leite foi diluído e por isso continha um baixo teor proteico.



Isto, acrescido ao facto dos níveis basais de ácido úrico do soro estarem aumentados assim como no filtrado urinário, em comparação com os adultos, aumenta a probabilidade de se formarem cálculos de ácido úrico.
Crianças e neonatos da maioria das espécies, têm taxas de crescimento mais elevadas e consomem uma maior percentagem de alimentos por unidade de peso corporal do que os indivíduos mais velhos (Mifflin e tal., 1990). Além disso, os neonatos são alimentados com uma maior frequência, muitas vezes de 2 em 2 horas. Considerando o tempo de semi-vida da melamina e de outras triazinas, é concebível dizer que a frequência com que as crianças são alimentadas poderá aumentar o pico dos níveis plasmáticos devido a repetidos fenómenos de dose-efeito.
É importante referir que os cristais (quer os referentes à nefropatia (ácido úrico) quer os referentes aos cristais de melamina-cianurato) não aparecem no ultra-som, pois trata-se de alterações microscópicas. Apenas as alterações estruturais de grande dimensão existentes no rim ou a presença de cálculos com dimensões superiores a 2 mm aparecerão evidenciadas nesta técnica. São necessários outros métodos para a visualização de alterações precoces nos rins incluindo depósitos calcários difusos como os que foram visualizados nos rins de ratinhos fêmea no estudo NTP (1983).




Baseado em:
Background Paper on Toxicology of Melamine and Its Analogues; R. Reimschuessel, Center for Veterinary Medicine, United States Food and Drug Administration, Laurel, MD, USA; D.G. Hattan and Y. Gu, Center for Food Safety and Applied Nutrition, United States Food and Drug Administration, College Park, MD, USA;WHO, Geneva,2009
Hau, Anthony Kai-ching; Kwan, Tze Hoi and Li, Philip Kam-tao (2009) Melamine Toxicity and the Kidney ; J Am Soc Nephrol 20: 245–250, 2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário